Ponte para 
a liberdade

O monge brasileiro Segyu Rinpoche, que orientou celebridades como Steve Jobs e Lawrence Levy, desenvolveu uma abordagem que adapta os princípios budistas ao contexto contemporâneo. Para ele, a chave reside na meditação, um instrumento que nos ajuda a desmantelar condicionamentos adquiridos ao longo da vida e descobrir nosso autêntico potencial de transformação.

Segyu Rinpoche trilha um caminho budista não convencional. Em sua clínica sofisticada de San Francisco, opta por roupas marrons da cabeça aos pés, incluindo um casaco de couro, em contraste com o tradicional manto vermelho. Esse estilo de vestimenta, adequado para a meditação, não carrega um peso estritamente religioso, seguindo um código único que ele criou. Durante uma década e meia, Rinpoche tem se dedicado a reinterpretar os ensinamentos budistas para a realidade ocidental contemporânea. Ele argumenta: “Muitas religiões estão enraizadas em dogmas e poucas realmente nos guiam para liberar nosso potencial interno.”

Esse monge carioca ocasionalmente revela seu sotaque brasileiro, mesmo depois de 35 anos residindo entre Califórnia e Índia, onde periodicamente viaja para estudos e meditações monásticas. Ele também é pai e avô, uma herança de sua vida anterior como Antônio Costa e Silva, nome que deixou para trás após ser identificado como a reencarnação de um proeminente mestre da linhagem Segyu, uma ramificação do budismo tibetano também seguida pelo Dalai Lama.

Embora formado em engenharia elétrica no Rio, Rinpoche nunca atuou na área. Ele menciona com orgulho sua contribuição na construção da ponte Rio-Niterói: “Os cálculos para posicionar os pilares são todos méritos meus.” Sua viagem à Califórnia em 1982 não foi em busca do renomado Vale do Silício, mas sim para explorar a psicologia transpessoal, um híbrido entre a psicologia clínica e a transcendental. Aprofundou-se ainda mais no assunto ao frequentar um curso de três anos no Centro Educacional de Medicina Tibetana em Milão.

Curiosamente, foi o Vale do Silício que, posteriormente, buscou Rinpoche. Um de seus discípulos, Lawrence Levy, juntamente com outros três adeptos, incentivou-o a adaptar os ensinamentos budistas tibetanos ao modo de vida americano. Essa colaboração de oito anos culminou na fundação da Juniper Foundation, uma combinação de clínica, escola e centro de meditação situada em San Francisco.

Levy, que era um executivo de destaque na Pixar, optou por deixar sua posição para se unir à Juniper.

Foi ele quem apresentou Rinpoche a seu cliente mais ilustre, Steve Jobs, com quem o monge manteve uma relação durante os últimos oito anos da vida de Jobs. “Nossas conversas giravam em torno da meditação”, compartilhou Rinpoche. Durante a conversa realizada em seu escritório na Juniper Foundation, o monge exibiu fotos no seu iPhone ao lado da atriz Maria Paula e mencionou possuir um iPad com sua coleção de livros. Ele detalhou como consegue manter a serenidade mesmo estando imerso no epicentro tecnológico global.

Sobre sua formação espiritual no Brasil, Rinpoche contou:

“Minha jornada foi multifacetada. Enquanto minha mãe era devota e me levava para a igreja e escolas católicas, eu era atormentado por visões e imagens.

Meu pai, um cardiologista e cientista, desconsiderava essas experiências como simples devaneios de criança. Entretanto, minha mãe buscava orientações de curandeiros e líderes espirituais.

Uma vez, uma mística disse a ela que eu era uma alma especial e precisava de cuidados diferenciados.”
Sua relação com a igreja foi breve.

“Eu era coroinha, mas a ideia do pecado original sempre me incomodou. Com o apoio de meu pai, abandonei a igreja e ele me incentivou a desenvolver meu próprio senso crítico.” Durante sua adolescência, Rinpoche encontrou inspiração em um professor do colégio militar, o coronel Hermógenes, um pioneiro da ioga no Brasil.

Sobre sua vida pré-budista no Rio, Rinpoche relembrou:

“Era um frequentador assíduo do bar Veloso, agora chamado Garota de Ipanema. Uma vez, um aroma peculiar de incenso me levou a uma casa espiritualista. Lá, conheci um líder visto como um monge tibetano, e foi quando percebi a importância do budismo em minha vida. Essa revelação me fez reavaliar muitos aspectos da minha vida, incluindo o abandono de certos hábitos e até mesmo a decisão de terminar meu casamento.”

Como foi sua interação com Steve Jobs?

Eu estava entre os primeiros a estar ciente de sua condição de saúde, o câncer no pâncreas, e comecei a acompanhá-lo desde então. Sinto que tive uma presença significativa em sua trajetória. Jobs possuía uma mente brilhante e uma personalidade marcante. Meu papel era integrar e fortificar sua energia durante os tratamentos intensos que recebia. Por diversas vezes, era necessário revitalizar seu ânimo e vigor. Embora ele demonstrasse um forte apreço pelo zen e pela cultura japonesa, seu estilo de meditação era particular. Não era a meditação tradicional, mas uma forma de contemplação. Nossos diálogos eram profundos e frequentemente envolviam extensos debates sobre a vida e o universo do Vale do Silício.

E quanto à tecnologia em nossas vidas?

Ela intensifica as distrações mentais já existentes, criando uma atmosfera de constante conexão e limitando nosso desenvolvimento pessoal. A tecnologia deve ser usada como um instrumento, mas com moderação. Por exemplo, durante uma viagem à Índia, encontrei fotos antigas, algo raro hoje em dia, onde as pessoas tiram incontáveis imagens. Esta superexposição pode ser uma fonte de distração.

E a reencarnação, não é um dogma?

Mesmo sendo identificado como uma reencarnação e tendo registros de minhas supostas vidas anteriores, não tenho memória desses eventos. Acredito na continuidade da vida. O que fazemos hoje molda nosso amanhã. Portanto, viva plenamente o presente, buscando paz interior, e essa serenidade perdurará.

Você é um monge que diz não apreciar religiões. Como assim?

Minha aversão é aos dogmas. Admiro a essência por trás das religiões, mas as pessoas frequentemente desejam abordagens rápidas e pragmáticas.

No site da Juniper, não há referências explícitas ao budismo para evitar associações religiosas, buscando atrair a sociedade contemporânea. No entanto, quando as pessoas se envolvem, são expostas aos ensinamentos budistas.


Estando tão perto do epicentro tecnológico, o Vale do Silício influencia seu trabalho?

Na verdade, sinto que sou eu quem influencia a abordagem deles. Fui introduzido a Steve Jobs por Lawrence Levy, e nossa relação se estreitou com o tempo. Minha interação com Jobs me permitiu absorver as inovações do Vale e transformá-las em forças positivas.


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